Compartilhe

O absurdo da escravização do trabalho

*Gualter Baptista Júnior

 

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Santa Cruz do Sul (STIFA);

Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo)

 É com muita tristeza e um sentimento enorme de indignação que temos acompanhado a situação análoga à escravidão, denunciada por trabalhadores na Serra Gaúcha, fato este que é completamente condenável, lamentável e inadmissível. O assunto ainda reverbera e não deve ser silenciado, pois infelizmente não é um caso isolado e ainda está presente nos diferentes segmentos do trabalho em nosso país.

Estes casos de escravização do trabalho compõem uma trágica realidade que nós, sociedade civil, organizada e séria, não podemos mais admitir. A escravização e qualquer tipo de violência física, psicológica, análogas ao trabalho escravo, configuram-se como um absurdo contemporâneo.

Muito se fala em liberdade econômica, na flexibilização das relações de trabalho, para que haja crescimento e oportunidades. Mas ao nos depararmos com esta tragédia no Rio Grande do Sul, confirmamos que a flexibilização pode ter um viés perigoso. Quando se deixa uma porta muito aberta, a gente vê que o abuso se torna uma prática corriqueira e deprimente. Para que isto não aconteça, de forma nenhuma, precisamos sim de leis que regulem as questões trabalhistas e que, acima de tudo, tenhamos entidades fortes e atuantes, que possam representar os trabalhadores, coibindo esse tipo de situação deplorável.

O STIFA tem a visão de que só se faz uma sociedade justa, fraterna e solidária, quando existe o respeito. Respeito entre as pessoas, respeito entre as instituições. Diálogo e respeito entre os setores patronais e de representação dos trabalhadores é essencial. Um sindicato atuante, forte e com respeito, perante as empresas certamente teria coibido esta ocorrência. Teria denunciado e evitado esta prática abusiva e lamentável.

Nosso posicionamento como Entidade Sindical é contundente diante do absurdo ocorrido, e entendemos sim que todos os envolvidos neste contexto possuem responsabilidade sobre o acontecido. Quem contrata o trabalhador, indiferente da forma, seja ela direta ou indireta, tem a obrigação de saber como são os meios dessa relação, se há cumprimento da legislação e quais são as condições para que o trabalho ocorra. Existe sim, responsabilidade para com o trabalhador em todos os níveis, e isto é um fato inegável.

Confirmamos a necessidade da existência da representação do trabalhador, e, sobretudo, a carência de fortalecimento destas instituições. Precisamos de entidades representativas, com a capacidade de proteger e olhar para os seus representados. Só assim, com relações fortes e saudáveis, acompanhadas da fiscalização, do diálogo e do respeito, será possível construir uma sociedade mais justa e fraterna, mais igualitária para todos. Parece utópico, mas é primordial para nossa evolução. Infelizmente este assunto ainda precisa ocupar as páginas dos jornais, estampar os noticiários, para que crimes desta natureza não sejam mais parte da nossa realidade. Além disso, importante salientar e relembrar que em alguns momentos tentou-se acabar com os sindicatos, os tornando não necessários, porém episódios como este nos mostram exatamente o oposto: apenas com entidades fortes e atuantes, e uma imprensa livre e coerente, tragédias como esta não serão mais recorrentes.